3 de julho de 2007

CONVITE



Sentada, apoiada na porta do banheiro, com as pernas esticadas, com uma das mãos ela segura o seu pequeno canivete afiado, e como se não sentisse mais nada além da dor e da angústia dentro de seu peito, ela faz um corte em seu pulso.
Ao mesmo tempo em que o sangue começa a escorrer suas lágrimas começam a cair, se tornando um misto de dor e alívio. E esta dor se mistura ao alívio por livrar-se dela que já não consegue mais suportar.
Com a outra mão, agora mais fraca por causa do ferimento, faz um corte no outro pulso e o canivete cai sobre seu colo.
Olhando para seus pulsos, agora já abertos e sangrando aos poucos, começou a pensar em tudo o que aconteceu, em tudo o que havia passado e começou a se questionar se aquilo era necessário.
Lembrou-se de tudo, de cada palavra, de cada gesto, de cada momento que preferiria não ter vivido, não ter visto, não ter ouvido, não ter existido.
Suas lágrimas tinham o gosto amargo, como fel; e à medida que ela tentava limpar as lágrimas com suas mãos, o sangue se misturava às lágrimas e sentia o amargo de de suas lágrimas se misturando ao gosto da dor, da solidão...
Pensou que talvez fosse mais fácil pedir ajuda, pedir socorro... Mas todos estão tão ocupados com seus próprios problemas, seus próprios dilemas que tinha a impressão que atrapalhava quando tentava se expressar, tinha a impressão de estar sendo egoísta, de pensar apenas nela mesma.
Aos poucos, já não conseguia mais levantar seus braços para poder enxugar suas lágrimas; sua respiração cmeçou a ficar mais fraca a cada minuto; começou a sentir seu coração bater cada vez mais devagar e sua visão já estava ficando fraca, enquanto sentia sua vida escorrer pelos seus pulsos e a deixando em um pequeno "lago vermelho" de desespero.
Até tentou se levantar, mas suas pernas já não estavam mais correspondendo.
Podia ouvir ao fundo uma música, mas não pôde definir qual era, apenas que era alegre; também ouvia ao fundo conversas e risadas que se misturavam ao som de seu choro. Imaginava se não havia ninguém que poderia ouvir seu choro, ouvir seus lamentos e tirá-la de lá.
Mas agora já é tarde, ela tentava mas não conseguia mais respirar, sentiu seu coração parar de bater e sua visão escureceu de vez enquanto seu corpo jovem e belo pendeu para o lado, misturando o cetim branco de seu vestido ao sangue derramado enquanto todos se divertiam na sua linda festa de quinze anos.

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