4 de julho de 2007

Chuva


Olhando pela janela a chuva cair, segurando sua caneca de café quente com as duas mãos, ainda embaixo do cobertor quentinho, sentia apenas as lágrimas escorrerem. Tinha a impressão de a cada gota de chuva que caía era mais uma lágrima derramada.
Perguntava-se se tanto sofrimento era válido, se tanta agonia era passageira, imaginava se algum dia esta dor iria embora.
Esforçava-se para que seu dia pudesse ser melhor, pudesse ser mais alegre, mas como?!
Sempre que acordava disposta a fazer algo novo, fazer algo que lhe trouxesse alegria, algum fato inesperado acontecia; mesmo que fosse uma inocente chuva já era o bastante para que sua dor aumentasse. Parecia que até o céu conspirasse contra ela, como se o mundo estivesse lhe dando as costas.
Já não via alegria na presença dos amigos, nos almoços de domingo com a família, os estudos, já nem se importava mais se iria tirar uma nota boa ou ruim.
O amor que tanto esperou para encontrar descobriu que na verdade foi mais uma peça que o destino pregou em seu caminho.
Quando acabou de tomar sua caneca de café, a colocou na mesinha ao lado do sofá e continuava olhando os pingos de chuva caírem na janela. Com o barulho da chuva fina batedo em janela sem se dar conta acabou adormecendo no aconchego do sofá.
Na manhã seguinte acordou com os raios de sol que estavam penetrando pela janela, também ouvia a risada das crianças que brincavam na rua; e assim despertou, fez uma caneca de café fresco e voltou para debaixo de seu cobertor, o seu refúgio.
Ficou parada olhando pela janela a alegria das crianças brincando na rua como se fosse o quintal de suas casas. Olhava os cães sendo levados para passear pelos seus donos, ouvia os pássaros cantando e viu como o céu estava azul, sem nenhuma nuvem.
Pensou por alguns minutos em nada, fechou os olhos e começou a sentir o cheiro da grama molhada pela chuva da noite passada, começou a se lembrar de momentos bons que havia passado, se lembrou de quando era uma criança e nada importava, e se perguntou: "Por que me importaria agora?"
Respirou fundo, tirou o cobertor de si, foi para o quarto e colocou uma roupa bem quente e antes de sair de sua casa, se olhou no espelho e disse para si: "Beberei na garrafa da insensatez de minha dor e me jogarei na pista da vida".
Ao sair de sua casa sentiu o sol bater em seu rosto, foi uma sensação como há tempo não sentia. Chamou algumas crianças e começou a brincar com elas como se fosse uma delas; se sentia uma delas.
Brincava como se a dor nunca tivesse existido, como se fosse à última vez em sua vida...

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