30 de junho de 2007

A glória de um touro (eiro)

Enquanto estava caído no chão, sentia que seu coração palpitava e sua respiração era ofegante, ele olhava nos olhos da fera que podia sentir o cheiro de seu medo e já não conseguia esconder sua vontade de atacar.
Cambaleando, o toureiro levanta para enfrentar o touro, já sentindo que aquela seria sua última batalha, sua última glória.
Já não ouvia mais nada, nem o grito que vinha das arquibancadas, nem o mugido de dor que o touro ferido soltava graças aos espetos que em seu dorso estavam cravados; ouvia apenas seu coração que batia cada vez mais forte, em um ritmo cada vez mais acelerado.
A fera o olhava com ódio nos olhos e sem que o toureiro terminasse de se levantar, respirou fundo, se preparou, e avançou com toda força que ainda lhe restava.
O toureiro, já sem forças, esgotado, apenas se levanta, abre os braços, fechando seus olhos aguardando a morte que chega cada vez mais perto a cada passo que o touro dá.
A platéia toda em silêncio, apreensiva, não acreditava que o toureiro, tão valente, se deixaria derrotar por um touro, apenas mais um touro como tantos que havia derrotado antes...
E, naquele que seria seu último suspiro, solta um grito de adeus, enquanto podia sentir o calor de suas lágrimas caindo pelo seu rosto.
O touro, cada vez mais perto, também podia sentir que aquela seria a última batalha do toureiro, e sem piedade o atinge em um único golpe, mortal e fulminante no peito, atingindo seu coração; como se soubesse que desta maneira o toureiro não teria como escapar.
O toureiro ainda olha mais uma vez, a última vez, nos olhos do touro, como se esta batalha quem havia ganhado era ele e não a fera, antes de cair já desfalecido no chão.
A platéia, antes muda, agora solta um grito de compaixão que se mistura as lágrimas derramadas e tudo que se podia ver eram as rosas sendo jogadas sobre o corpo do toureiro, que entregou sua vida como se fosse um herói.

28 de junho de 2007

VAZIO

Ao entrar na casa, agora vazia, tudo em que podia pensar, o que podia sentir, eram as saudades que ficaram, os sentimentos que não voltaram mais.
Entrando na cozinha, ainda podia sentir o cheiro do bolo saindo do forno e ouvir as crianças brincando no quintal. E a cada vez que pensava em tudo o que havia acontecido, em tudo o que poderia ter sido evitado era mais uma lágrima que caía.
Andando pelos cômodos da casa, passava a mão pelas paredes brancas como se ainda admirasse os quadros que outrora estiveram ali pendurados, como se ainda pudesse ver os rabiscos feitos pelas crianças; mas agora nem brigar mais com elas pode mais...
Quando chegou ao quarto, que um dia já fora seu, fechando os olhos podia ouvir o barulho do chuveiro ligado, também ouvia as risadinhas, os gemidos, e tudo de alegre que acontecera ali. Olhando para onde ficava a cama podia sentir ainda a delicadeza dos lençóis de cetim e o conforto de sua cama.
Prestes a sair da casa, como que em um ritual de despedida, anda cômodo a cômodo, como se pudesse trazer de volta de si toda aquela alegria e fantasia que um dia moraram naquela casa.
Ao passar pela última vez na sala, encosta-se à parede e como se perdesse o domínio sobre suas pernas, escorrega até o chão. Agora, abraçando seus joelhos, em meio ao pranto que a consome, tira de sua bolsa uma pistola e sem pensar em outra coisa a aponta para sua fronte.

Silêncio.

Agora, já não se ouve as crianças brincando lá no quintal, nem os latidos do cachorro para o carteiro, nem seu amado a chamando apenas para lhe dizer o quanto à ama.
Enquanto os raios do sol entravam aos poucos pela janela iluminava apenas o sangue que seguia seu curso pelo chão...