26 de julho de 2007

Boneca de Porcelana


Acordou de repente no meio da noite, assusta com o pesadelo que acabava de ter. Sua respiração era ofegante e etava suando muito. Sempre tinha aquele pesadelo, na verdade mais parecia com um "replay" do que há muito tempo havia acontecido e ela não conseguia se desligar daquelas lembranças.

Se levantou da cama, vestiu se hobby e foi até a cozinha para beber um copo de água e tentar relaxar para que o sono voltasse. Tentava não pensar naquelas cenas, tentava não lembrar de tantos detalhes mas era inevitável... estava tão vívida a imagem em sua mente quanto no dia em qu aconteceu.

Passou longos minutos ali, pensativa, segurando o copo de água e baendo com os dedos a bancada à espera do sono que não chegava, então resolveu ir até a sala.

Sentada na poltrona, foleou algumas revistas velhas e pegou um livro que estava no chão mas ao abrí-lo caiu um pedaço de papel amarelado e amassado, era um bilhete. Resolveu abrir pois não se lembrava daquele bilhete. Quando o abriu, ficou tão trêmula que deixou o livro cair junto com o bilhete, e não conseguindo se segurar, chorou, feito a criança que era na época em que tudo aconteceu. Tentou abafar o choro com as mãos em seu rosto, para que ninguém ouvisse.

Quando se recompôs, foi até o bar da sala e tomou uma taça de conhaque na tentativa de trazer o sono de volta ou esquecer tudo aquelo que havia acontecido, mas era tudo em vão. Então tomou mais uma taça e outra e perdeu a conta de quantas foram.

E a cada taça que tomava, além das cenas não sairem de sua mente, sentia todas as sensações daquele dia. podia sentir o cheiro do suor, a dor do tapas qe levou para ficar quieta, seus gritos sendo abafados por aquela mão pesada, o nojo de se sentir tocada daquela maneira tão íntima por alguém tão íntimo... e a impotência de nunca poder ter podido fazer nada...

Se levantou do bar, meio sem jeito por estar embriagada, derrubando taças e copos e garrafas e cambaleando voltou ao quarto em pranto novamente. Se sentou na cama e pegou sua boneca favorita... abriu a gaveta de seu criado-mudo e pegou seu vidro de remédio para dormir e tomou todas as pílulas que haviam nele. Se deitou com abraçada com sua boneca como fazia quando era criança e fechou seus olhos, finalmente sono havia chego. Sua mãe foi até o seu quarto pela manhã para a acordar e não conseguiu, o sono que ela tanto queria para poder ter um pouco de paz havia chego, agora dormia o sono eterno. Sua mãe a abraçou e chorou muito... percebeu que em sua mão havia o vidro de remédio e o bilhete que tinha encontrado.

Quando ela abriu o bilhete e o leu, tudo para ela passou a fazer sentido.
Abraçou mais uma vez a filha, lhe deu um beijo em seu rosto e a colocou deitada novamente na cama, e foi chamar seu marido, para que ele pudesse se despedir de sua Boneca de Porcelana...

13 de julho de 2007

A crise dos vinte e poucos

"Quando se tem vinte e tantos... Uma idéia se faz muito perigosa quando é a única que se tem... É chamada "Crise de um quarto de vida". Você se encontra desvinculado da multidäo mais que em qualquer outro momento da sua vida. Começa a se sentir inseguro e se perguntar onde estará em um ano mas logo se assusta ao se dar conta de que apenas sabe onde está agora Começa a perceber que há um monte de coisas sobre você mesmo que näo sabia e que, talvez, nem te agrade. Começa a dar-se conta de que teu círculo de amizades é bem menor do que era há um ano... Começa a se dar conta que é mais difícil ver seus amigos e coordenar horários... Por diferentes questões: trabalho, estudo, parceiros, etc... E cada vez mais voce desfruta de uma cervejinha que serve como desculpa pra poder conversar um pouco. As multidões já não são mais "täo divertidas"... Às vezes até te incomodam. E passa a sentir falta da comodidade da escola, dos grupos, de socializar com a mesma gente de forma constante. Mas começa a se dar conta de que enquanto alguns eram verdadeiros amigos, outros não eram tão especiais depois de tudo. Começa a se dar conta de que algumas pessoas são egoístas e que é melhor, esses amigos que você areditava estarem perto não são exatamente as melhores pessoas que já tenha conhecido e que as pessoas com quem perdêras contato resultam ser os amigos mais importantes para você. Você ri com mais vontade, mas choras menos lágrimas, porém com mais dor. Quando te partem o coraçäo você pergunta como essa pessoa a quem amou tanto pode ter lhe feito tanto mal. Ou,quem sabe, acordas no meio da noite e fica se perguntando por que você não pode conhecer alguém suficientemente interessante para querer conhecer melhor. E de repente lhe parece que todos que você conhece estão namorando há anos e que alguns até já se casaram. Talvez você também ame alguém, mas simplesmente não está seguro se se sente preparado para comprometer-se pelo resto da sua vida. Atravessa as mesmas emoções e perguntas uma vez ou outra. Fala com seus amigos sobre os mesmos assuntos porque não acaba de tomar uma decisão. As farras e encontros de uma noite começam a lhe parecer baratos, embebedar-se e agir como um idiota começa a lhe parecer verdadeiramente estúpido. Sair três vezes por fim de semana resulta gastar e isso significa muito dinheiro para o seu pequeno salário. Olha o teu trabalho e, quem sabe, não está passando nem perto daquilo que pensavas que estaria fazendo. Ou então está procurando um trabalho e fica pensando que vai ter que começar tudo desde o princípio, isso lhe causa medo. Dia-a-dia começa entender a você mesmo, sobre o que quer e sobre o que não quer. Suas opiniöes se tornam mais fortes. Vê o que os outros estão fazendo e se encontra julgando um pouco mais do que o usual porque de repente tem certos laços em sua vida e adiciona coisas a ela que lhe são aceitáveis e outra que não lhe são. Às vezes se sentes genial e invencível, mas às vezes... Apenas com medo e confuso. De repente, se agarra ao passado, mas se dá conta que o passado cada vez mais se afasta e que não há outra opção que não a de seguir em frente. Te preocupas com o futuro, emprétimos, dinheiro... E por fazer uma vida para você. Vencer na carreira seria grandioso, agora que está sozinho gostaria de estar competindo no mercado de trabalho. O que pode que não te dê conta, é que tudo que estamos lendo está nos identificando. Todos nós temos "vinte e tantos" e gostaríamosde voltar de novo aos 17-18 algumas vezes. Parece ser um lugar instável, um caminho em transição, um desajuste da cabeça... Mas TODOS dizem que é a melhor época de nossas vidas e não temos que desaproveitá-la por culpa de nossos medos!!!"

Autor desconhecido

8 de julho de 2007

Tarde de Domingo



A mesa da sala tinha uma linda toalha branca rendada e por cima dela haviam dois vasos azuis, um com rosas vermelhas, sua flor e cor favoritas, e o outro com rosas brancas, apenas para dar um toque suave à ocasião.


Na mesa havia também muitos e diversos doces, alguns tipos de bombons e refrigerantes e alguns sucos. Quem olhava a mesa posta daquela maneira poderia até pensar que era mais uma reunião de família, mais um dia de festa, mas era uma despedida.


Ela olhou aquela mesa tão bonita, pegou apenas um cafezinho e se sentou na poltrona q havia na entrada da sala para aguardar as pessoas que começavam a chegar aos poucos.


Todos a cumprimentavam, a beijavam e a abraçavam. Ela se perguntava se em algum momento da vida havia visto todos juntos daquela maneira. Seus filhos, netos, sobrinhos, primos... enfim, todos a quem ela podia podia chamar de família, mesmo distante. E aquilo de alguma forma a confortava, ela se sentia amada, bem quista e acima de tudo, bem cuidada.


Se levantou e passou mais uma vez pela mesa, agora já com doces desfalcados e a toalha um pouco remexida. Deslizou os dedos por sobre ela e começou a se lembrar de tantos almoços e jantares que fez ali. Tantas reuniões de família, que às vezes a mesa ficava pequena para tanta gente.


Foi para perto da janela da sala, onde o piano ficava, se sentou no banco e dedilhou alguma música sem muito sentido. Fechou as teclas e se perdeu em alguns instantes nas fotografias algumas em preto e branco até que uma de suas netas a chamou e disse que estava na hora.


Ela segurou aquela pequena e delicada mãozinha e a seguiu até o jardim onde todos a estavam aguardando. Ela estava linda, e havia demorado muito para se arrumar, passou a noite anterior escolhendo qual seria o melhor vestido para aquela ocasião; escolheu um vestido que fosse sério mas que não transmitia tristeza. E até ao cabeleireiro foi para ficar mais bonita.


Quando chegou à porta que saía para o jardim, sua neta soltou de sua mão e correu para a mãe. Todos a observavam, imóveis, calados. Ela desceu os três degraus para chegar até o jardim e não caminhou muito até que chegasse ao caixão. Ela pensava apenas em como ele parecia estar bem, como estava bonito, embora ela estivesse triste por ter que se despedir para sempre, por ter que dormir e saber que não o veria na manhã seguinte.


Passou a mão nos cabelos brancos e volumosos, acarinhou seu rosto, e, então, a primeira lágrima caiu; sua filha quis se levantar para a abraçar e confortar, mas sua filha que havia levado a avó até lá segurou tão forte sua mão que ela desistiu.


Suas mãos já não mais delicadas e macias, por causa da idade avançada, segurava as mãos de seu amado como já havia feito tantas vezes antes; enquanto a outra mão segurava a aliança que era dele e que agora estava na gargantilha em seu pescoço. Se lembrou de todos os momentos importantes que passou ao lado de seu amado: quando se conheceram, o namoro, o pedido de casamento... os filhos, as brigas e reconciliações...


Não sentia raiva por ele ter quebrado a promessa de ir embora por último, afinal já havia quebrado tantas outras promessas antes...


Enxugou mais uma lágrima, respirou fundo, virou as costas e caminhou cabisbaixa até a primeira cadeira. Ficou lá, sentada, pensativa por alguns minutos, se levantou e disse que já podiam levá-lo pois já havia se despedido.


Os filhos fecharam o caixão e seguiram com o cortejo, mas ela não quis ir e deu como desculpa a necessidade de limpar a casa pois "as crianças haviam feito muita bagunça". Mas não foi isso que fez. Foi até a mesa, que agora estava praticamente sem doces e sem toalha, pegou alguns doces, uma xícara de café e caminhou devagar até o piano, onde se sentou e pela janela apreciou o pôr-do-sol na companhia de seu amado nas fotografias, em sua mente e para sempre em seu coração.

5 de julho de 2007

Autor desconhecido

“Pra quem foi, pra quem ficou
De que vai , de quem fica
Só Deus explica, só Deus pra explicar
Pra me conformar, assim é a vida
Minha parte eu faço, a minha parte; eu faço”

A vida segue sentido a caminho da morte eu sei
(Mas não me acostumei...)
Com cadáveres, flores dentro de um caixão
Lágrimas dores dentro de um coração

Não me interessa como está o tempo , não
Dia de luto é muito sofrimento, então
Um silêncio toma conta de quem chora por dentro
E uma palavra de lamento, não pode amenizar
Esse momento triste de quem deixou de existir
Que nunca mais vai chorar, ou muito menos sorrir
O céu escuro sustenta um temporal que não acalma
Será chuva ou fúria, de Deus chorando pela alma
Não sei , não posso entender porque sou só um réu
Um réu que pode sentir que existe luz ali no céu
Prontas pra perdoar alguém que acabou de morrer
Numa viagem pro além
E nada supera a dor de quem ficou pra trás
Dos familiares, dos pais ,os filhos choram demais
O sino toca pra fechar o caixão
Com gritaria, com choro, o pastor termina sua oração
Mesmo sabendo que naquele corpo não há vida
O sentimento de perda, bate na hora da partida
Carregando uma rosa, cheguei perto da cova
Com aquele aperto no peito, expresso o meu sentimento
A multidão troca de mão pra carregar o corpo
E eu olhando aquela cena, vi que a vida é um sopro
Que a morte suga de volta no ultimo suspiro
O peso do mundo levou mais seis espíritos
Um minuto de silêncio tive esses pensamentos
Só voltei a mim, porque durante aquele sepultamento
Alguém gritou e eu ouvi ...
Deus meus olhos não vão resistir...

Rola uma lágrima
Só uma gota e nada mais
Esse mundo é um rio de sangue
Rola uma lágrima
A minha lágrima a mais,
Talvez não seja tão importante
Rola uma lágrima
Só uma gota e nada mais,
Nesse mundo jorrando sangue
Rola uma lágrima
Só uma gota te pedindo a paz,
Só uma lágrima e nada mais

Canções da vida em notas tristes
Musicas verdadeiras, nunca são passageiras
Sempre tocam uma canção
Que mexe com seu coração
Então a saudade vem
Te faz lembrar de alguém
De um fato triste, lamentável , quase inaceitável
Mais foi escrito assim, todo começo tem um fim
Só lembranças e boas recordações devem ficar
Pra continuar vivendo
Pra não ficar sofrendo
Olha ser humano, o céu está sorrindo
O demônio está matando mas Jesus Cristo está vindo
É isso que me move, a minha fé me dá certeza
Morrer em vão não , morrer em Cristo assim seja
Aceitar que alguém que você ama vá é difícil
No jogo da vida a regra de Deus não é fácil
Eu faço um sacrifício , só pra não chorar
Mesmo chorando a todo tempo
Você não vê mas eu choro por dentro
Paz quem sou eu pra de dar?
Mas ascenda uma vela
Sou mensageiro dela
Estou triste com tudo
Talvez por ser verdadeiro
Eu tenho medo do mundo
Mas com coragem de guerreiro
E os fortes também choram
Isso é tão comum
Os homens são sentimentais
Entre mil eu sou mais um
Uma rocha por fora
Que não se escuta o choro
Porque a dor da minha lágrima
É a harmonia do meu coro

Rola uma lágrima
Só uma gota e nada mais
Flutuando num rio de sangue
Rola uma lágrima
A minha lágrima a mais
Talvez não seja tão importante
Rola uma lágrima
Só uma gota e nada mais
Nesse mundo jorrando sangue
Rola uma lágrima
Só uma gota te pedindo a paz
Só uma lágrima e nada mais

Cansado, magoado
Com medo e com coragem
Meu coração bate assim
Mais prejuízo que vantagem
E com quase trinta anos de idade
É assim que eu me vejo
Sem fantasias sem desejos
Eu não programo mais nada, nesse mundo
Aliás, nunca fui de programar “HÁ”
Porque amanhã nem sei se vou acordar
Foi ontem , é hoje e o amanhã...
Quem sabe eu chego lá
Fazemos parte de uma história que só Deus criou
Sou só mais um personagem
Nesse mundo de horror
Faço papel de escritor
Escrevo a dor de uma lágrima
Sentimental eu sou
Com amor e com mágoa
Até que chegue um ponto final no papel
Que nunca foi o principal aqui na terra
Mas tenho fé no céu
Só acredito no céu
E o paraíso existe mano
De irmão pra irmãos
Eu não preciso de mil lágrimas
Pra mostrar minha dor
Eu expresso ativando meu sofrimento
Eu sou compositor
Da paz
Do ódio
Da guerra e do amor
Deus mandou a palavra
Quando eu cantei você chorou
Não quero ver ninguém triste
Ou de tristeza chorar
Basta crer que Deus existe
Pra entender o que eu quero falar
Não diga pra Deus
Que você tem um problema, “OH”
Diga pro seu problema que você tem
Um Deus maior
Chorar demais não adianta
É por isso que eu canto
Quem canta os males espanta mano
Eu não vivo em prantos
O ser humano faça da sua vida
Uma canção, não chore
Ouça o refrão eu vim pra te falar...
Me ouça e decore

É preciso crer
Que exista um plano melhor
Para os tantos corações
Que voltaram as cinzas
E das cinzas ao pó
Não está só, não morreu
Só descansa mais um espírito
Cujo corpo adormeceu
Assim sempre esteve escrito
O homem leu mas não compreendeu
O quanto pesa o pingo de uma lágrima
Do sangue que escorre
Aos olhos de Deus

Rola uma lágrima
Só uma gota e nada mais
Flutuando num rio de sangue
Rola uma lágrima
A minha lágrima a mais
Talvez não seja tão importante
Rola uma lágrima
Só uma gota e nada mais
Nesse mundo jorrando sangue
Rola uma lágrima
É grande a dor de uma lágrima.

“Entre a terra e o céu
hoje estou aqui, amanhã posso estar lá
Estou na dor de uma lágrima”

Adeus


Só conseguia pensar comigo: "adeus". A cada passo que dava era mais uma lágrima que caía.
Tentava respirar fundo, mas quando o fazia, soluçava, involuntariamente não conseguindo o fazer.
Tudo o que queria naquele momento era voltar no tempo, fazer algumas coisas diferentes, tentar acertar desta vez. Mas agora é tarde, não posso voltar atrás.
Enquanto continuava a caminhar, em minha mente se passam flashes de momentos felizes, momentos tristes, momentos importantes que não quero esquecer. Ainda podia ouvir sua voz brigando comigo, sua risada quando contava uma piada, sinto seu cheiro como se tivesse acabado de sair do banho...
No momento em que nos separaram, senti meu coração palpitar mais forte, a garganta secar. Procurei por alguém para me apoiar, pois sentia como se o chão se abrisse e tentasse me engolir; tive a impressão de que minhas pernas perderam a força e que a qualquer momento poderia cair.
Fecho meus olhos para tentar não olhar, mas é inevitável não dar o último tchau, dizer mais uma vez em pensamento o quanto a amo... Ainda não consigo entender a idéia de não tê-la mais perto de mim...
Colocam a tampa e por mais que eu não queira, por mais que eu peça, não adianta, ela não irá voltar, não irá acordar deste sono eterno e voltar comigo para casa.
Respiro fundo, e a cada centímetro que ando é mais uma lágrima que cai.
Quando sinto que não vou agüentar, quando sinto que minha visão está falhando, fecho meus olhos por alguns instantes e quando abro novamente, estou olhando para cima, vejo um pequeno pássaro azul cantando em uma árvore e nele perco alguns minutos, como se esquecesse do que estava acontecendo. Quando volto meus olhos para baixo, percebo que tudo já está acabado.
Enxugo minha última lágrima, agora já consigo respirar fundo. Abraço minha irmã e caminho, devagar, sem falar nada, sem pensar em nada enquanto o sol se põe no horizonte e minha mãe descansa em paz...

4 de julho de 2007

Passeio


Caminhando por sob a luz da Lua, descalça no bosque, ouço apenas o som das corujas, dos morcegos, que assim como eu, gostam da noite.
A temperatura está agradável, a terra úmida por causa do orvalho que cai devagarzinho.
O chão está forrado de folhas secas que caíram das grandes árvores formando uma espécie de "cama" e é como se estivesse me chamando para ali me aconchegar.
Continuo caminhando e agora já posso ouvir o som da água que desce pela cachoeira formando um manto transparente, refrescante...
Chego até a margem do lago que a cachoeira forma e deixo meu vestido deslizar pelo meu corpo até as pedras que ali rodeiam e entro na água, pouco a pouco, sentindo a água molhar cada parte de meu corpo até que apenas a cabeça fique para fora.
Fecho meus olhos e, esqueço por alguns instantes, é como se existisse apenas a mim e aquele bosque, mais nada. Quando volto a abrir meus olhos, contemplo a Lua, mãe sagrada e observo seu reflexo na água.
Saio da água, me visto e volto para a entrada do bosque, onde a "cama" de folhas está feita e me deito, apenas para relaxar, e sem perceber, acabo por adormecer nos braços da bela mãe que me embala os sonhos.
Quando desperto vejo que a Lua já se foi, dando lugar ao Astro-Rei que precisa brilhar para que a vida continue.
Volto pelo mesmo caminho, agora, o orvalho já se foi, e as folhas parecem mais secas. Agora, as corujas e os morcegos quem me acompanhavam já se foram dando lugar ao canto dos pássaros e ao colorido das borboletas.
Por entre a copa das árvores, posso ver a luz do Astro-Rei que tenta atravessar para iluminar as pequeninas flores que ali nascem. Respiro fundo sentindo um aroma único, puro, sem maldade, cheio de vida.
Ao sair do bosque e chegar a minha cabana, vou direto à cozinha e preparo um café, forte e adoçado com um pouco de mel. Sento no balanço de madeira que está na área e contemplo todo o esplendor do bosque com minha caneca de café nas mãos.

Chuva


Olhando pela janela a chuva cair, segurando sua caneca de café quente com as duas mãos, ainda embaixo do cobertor quentinho, sentia apenas as lágrimas escorrerem. Tinha a impressão de a cada gota de chuva que caía era mais uma lágrima derramada.
Perguntava-se se tanto sofrimento era válido, se tanta agonia era passageira, imaginava se algum dia esta dor iria embora.
Esforçava-se para que seu dia pudesse ser melhor, pudesse ser mais alegre, mas como?!
Sempre que acordava disposta a fazer algo novo, fazer algo que lhe trouxesse alegria, algum fato inesperado acontecia; mesmo que fosse uma inocente chuva já era o bastante para que sua dor aumentasse. Parecia que até o céu conspirasse contra ela, como se o mundo estivesse lhe dando as costas.
Já não via alegria na presença dos amigos, nos almoços de domingo com a família, os estudos, já nem se importava mais se iria tirar uma nota boa ou ruim.
O amor que tanto esperou para encontrar descobriu que na verdade foi mais uma peça que o destino pregou em seu caminho.
Quando acabou de tomar sua caneca de café, a colocou na mesinha ao lado do sofá e continuava olhando os pingos de chuva caírem na janela. Com o barulho da chuva fina batedo em janela sem se dar conta acabou adormecendo no aconchego do sofá.
Na manhã seguinte acordou com os raios de sol que estavam penetrando pela janela, também ouvia a risada das crianças que brincavam na rua; e assim despertou, fez uma caneca de café fresco e voltou para debaixo de seu cobertor, o seu refúgio.
Ficou parada olhando pela janela a alegria das crianças brincando na rua como se fosse o quintal de suas casas. Olhava os cães sendo levados para passear pelos seus donos, ouvia os pássaros cantando e viu como o céu estava azul, sem nenhuma nuvem.
Pensou por alguns minutos em nada, fechou os olhos e começou a sentir o cheiro da grama molhada pela chuva da noite passada, começou a se lembrar de momentos bons que havia passado, se lembrou de quando era uma criança e nada importava, e se perguntou: "Por que me importaria agora?"
Respirou fundo, tirou o cobertor de si, foi para o quarto e colocou uma roupa bem quente e antes de sair de sua casa, se olhou no espelho e disse para si: "Beberei na garrafa da insensatez de minha dor e me jogarei na pista da vida".
Ao sair de sua casa sentiu o sol bater em seu rosto, foi uma sensação como há tempo não sentia. Chamou algumas crianças e começou a brincar com elas como se fosse uma delas; se sentia uma delas.
Brincava como se a dor nunca tivesse existido, como se fosse à última vez em sua vida...

3 de julho de 2007

Despedida


Ao entrar no quarto, ficou paralisado com a cena que estava presenciando; por mais que quisesse ter alguma reação além de chorar, não conseguia. Ficou ali, parado por vários minutos na porta do quarto enquanto olhava tristemente para o corpo de sua amada, agora já sem vida sobre a cama que outrora fora palco para tantas cenas de amor.
Quando conseguiu recobrar as forças, devagar caminhou até a cama, deu a volta para que pudesse olhar mais uma vez para a face de sua amada, mas se deparou com uma face totalmente apagada daquela que conhecia, antes repleta de vida e agora...
Ela estava deitada de lado, com os joelhos um pouco dobrados, quase em posição fetal; seus punhos para o lado de fora da cama, e abaixo deles um pequeno vasilhame para onde o sangue pudesse cair. Parecia que havia tomado o cuidado para que não sujasse a linda roupa de cama feita de cetim branco.
Com muito esforço, conseguiu olhar para os olhos dela que ainda estavam abertos, como se ela estivesse esperando por ele para poder dar um último olhar, agora de adeus.
Passou a mão por seus cabelos lisos e sedosos, desceu até sua face, pescoço e seguia para seus braços até que chegasse em suas pequeninas mãos ensangüentadas. Evitou encostar em seus pulsos com medo que pudesse machucá-la mais. Alisou sua camisola nova de seda cor-de-rosa com rendas, que havia sido presente o último aniversário de casamento que passaram juntos.
Sem que pudesse se conter mais, a abraçou forte e beijou sua face em meio às lágrimas, gritou seu nome por diversas vezes como se pudesse despertá-la daquele sono eterno; mas ela continuava ali, parada, imóvel.
Perdido em meio a tantas dúvidas, tentava achar apenas uma explicação para tal ato. Caminhou pela casa tentando encontrar alguma pista, algo que lhe fizesse sentido. Até que achou um bilhete na escrivaninha, escrito com letras miúdas e delicadas, ele o leu como se fosse o documento mais importante de sua vida e tudo se esclareceu em sua mente.
Quando já havia se recuperado do susto, respirou fundo, se levantou e foi novamente até ela. Chegando lá, a beijou, fechou-lhes os olhos e ligou para a funerária para que pudesse dar início o mais rápido possível para a despedida de sua amada.

CONVITE



Sentada, apoiada na porta do banheiro, com as pernas esticadas, com uma das mãos ela segura o seu pequeno canivete afiado, e como se não sentisse mais nada além da dor e da angústia dentro de seu peito, ela faz um corte em seu pulso.
Ao mesmo tempo em que o sangue começa a escorrer suas lágrimas começam a cair, se tornando um misto de dor e alívio. E esta dor se mistura ao alívio por livrar-se dela que já não consegue mais suportar.
Com a outra mão, agora mais fraca por causa do ferimento, faz um corte no outro pulso e o canivete cai sobre seu colo.
Olhando para seus pulsos, agora já abertos e sangrando aos poucos, começou a pensar em tudo o que aconteceu, em tudo o que havia passado e começou a se questionar se aquilo era necessário.
Lembrou-se de tudo, de cada palavra, de cada gesto, de cada momento que preferiria não ter vivido, não ter visto, não ter ouvido, não ter existido.
Suas lágrimas tinham o gosto amargo, como fel; e à medida que ela tentava limpar as lágrimas com suas mãos, o sangue se misturava às lágrimas e sentia o amargo de de suas lágrimas se misturando ao gosto da dor, da solidão...
Pensou que talvez fosse mais fácil pedir ajuda, pedir socorro... Mas todos estão tão ocupados com seus próprios problemas, seus próprios dilemas que tinha a impressão que atrapalhava quando tentava se expressar, tinha a impressão de estar sendo egoísta, de pensar apenas nela mesma.
Aos poucos, já não conseguia mais levantar seus braços para poder enxugar suas lágrimas; sua respiração cmeçou a ficar mais fraca a cada minuto; começou a sentir seu coração bater cada vez mais devagar e sua visão já estava ficando fraca, enquanto sentia sua vida escorrer pelos seus pulsos e a deixando em um pequeno "lago vermelho" de desespero.
Até tentou se levantar, mas suas pernas já não estavam mais correspondendo.
Podia ouvir ao fundo uma música, mas não pôde definir qual era, apenas que era alegre; também ouvia ao fundo conversas e risadas que se misturavam ao som de seu choro. Imaginava se não havia ninguém que poderia ouvir seu choro, ouvir seus lamentos e tirá-la de lá.
Mas agora já é tarde, ela tentava mas não conseguia mais respirar, sentiu seu coração parar de bater e sua visão escureceu de vez enquanto seu corpo jovem e belo pendeu para o lado, misturando o cetim branco de seu vestido ao sangue derramado enquanto todos se divertiam na sua linda festa de quinze anos.

1 de julho de 2007

Um dia chuvoso





Tinha a sensação de que era um sonho mas por mais que quisesse acordar, despertar, não conseguia.
Sentia sua respiração cada vez mais ofegante, como se perdesse o fôlego aos poucos, e seu coração batendo cada vez mais forte embora o ritmo não fosse acelerado. E ainda tinha sensação de estar se debatendo, embora não estivesse se movendo, e ainda que não tivesse certeza se era real ou sonho, se tudo aquilo que acreditava estar sentindo era verdade ou uma peça pregada por sua mente.
Se sentia estranha, e se perguntou se aquelas sensações poderiam ser reais ou se poderia acreditar que tudo não passava de um sonho. Sonho? Mas não havia nenhuma imagem formada em seus pensamentos... então como poderia ser um sonho?
Ainda tentava acordar e realmente queria se debater, mas tudo em vão. E foi então que percebeu que não era um sonho.
Se lembrou de que o vinho, única coisa que havia tomado, estava com um gosto um pouco diferente do que estava acostumada a sentir e a sua cor também não lhe parecia muito agradável, mas não se preocupou em saber o que era aquilo, afinal de contas, havia sido a pessoa que mais confiava e amava que havia lhe servido a bebida.
Aos poucos seu coração foi batendo cada vez mais devagar e com mais força, tanta força que até podia ouví-lo, aliás era a única coisa que conseguia ouvir. E por mais que tentasse respirar mais profundamente e mais vezes, seu corpo já não correspondia como gostaria e todo o seu esforço era em vão pois sua respiração também estava cada vez mais fraca.
Já não tinha mais forças e seu coração havia parado. Não tinha mais nenhuma reação.
Foi então que o travesseiro que a estava sufocando foi retirado de seu rosto e seu último movimento foi olhar dentro dos olhos negros e frios de sua companheira e deixar uma lágrima cair enquanto sua cabeça pendia para o lado já em sinal de seu último suspiro de vida, enquanto sua companheira observava sem ao menos demonstrar qualquer tipo de arrependimento.
Se levantou apenas quando teve a certeza de que tudo havia terminado, fechou os olhos de sua amada e arrumou sua cabeça no travesseiro fazendo com que parecesse que ela estava apenas dormindo. Foi até a sala, se serviu de uma taça de conhaque, acendeu um charuto e se sentou em frente à lareira observando a chuva fina que caía.