28 de junho de 2007

VAZIO

Ao entrar na casa, agora vazia, tudo em que podia pensar, o que podia sentir, eram as saudades que ficaram, os sentimentos que não voltaram mais.
Entrando na cozinha, ainda podia sentir o cheiro do bolo saindo do forno e ouvir as crianças brincando no quintal. E a cada vez que pensava em tudo o que havia acontecido, em tudo o que poderia ter sido evitado era mais uma lágrima que caía.
Andando pelos cômodos da casa, passava a mão pelas paredes brancas como se ainda admirasse os quadros que outrora estiveram ali pendurados, como se ainda pudesse ver os rabiscos feitos pelas crianças; mas agora nem brigar mais com elas pode mais...
Quando chegou ao quarto, que um dia já fora seu, fechando os olhos podia ouvir o barulho do chuveiro ligado, também ouvia as risadinhas, os gemidos, e tudo de alegre que acontecera ali. Olhando para onde ficava a cama podia sentir ainda a delicadeza dos lençóis de cetim e o conforto de sua cama.
Prestes a sair da casa, como que em um ritual de despedida, anda cômodo a cômodo, como se pudesse trazer de volta de si toda aquela alegria e fantasia que um dia moraram naquela casa.
Ao passar pela última vez na sala, encosta-se à parede e como se perdesse o domínio sobre suas pernas, escorrega até o chão. Agora, abraçando seus joelhos, em meio ao pranto que a consome, tira de sua bolsa uma pistola e sem pensar em outra coisa a aponta para sua fronte.

Silêncio.

Agora, já não se ouve as crianças brincando lá no quintal, nem os latidos do cachorro para o carteiro, nem seu amado a chamando apenas para lhe dizer o quanto à ama.
Enquanto os raios do sol entravam aos poucos pela janela iluminava apenas o sangue que seguia seu curso pelo chão...

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